sábado, 30 de julho de 2011

Ora agora mordo eu, ora agora mordes tu...


Miguel Alvarenga - Há quem defenda que é uma falta de respeito do cavalo pelo toiro. Ponho as coisas ao contrário: e que respeito tem o toiro pelo cavalo? Se puder, não lhe dá uma cornada? Aqui não tanto, que sai embolado, mas em Espanha já se fala de outra forma...
Diego Ventura introduziu a moda das mordidelas com o cavalo "Morante". Há que entender que o faz sempre em fim de festa e como adorno de uma boa faena. Chamam-lhe circo. Mas se o público gosta, se o público quer, se o público pede (exige), se o público se diverte...
Podem vir agora as mentes entendidas cá do burgo escrever o que escreverem. A praça do Montijo, ontem à noite, estava de pé, em euforia. A praça, não. O público que a enchia. Que a enchia para ver Ventura. E assim sendo, meus amigos... num momento em que nada se passa, em que tudo é mais do mesmo, bem-aventurado seja Ventura por encher as praças, galvanizar os (novos) aficionados e ajudar a que isto não morra, não acabe. Haja discussão, haja polémica. Isso é saudável e só traz bem à Festa.
Dirão uns que se perdeu a essência da arte de bem tourear a cavalo. E eu questiono: Ventura toureou mal? A arte não está em permanente evolução? Vamos continuar a tourear como se toureava há 50 anos? Há que inovar. As inovações foram sempre contestadas. Batista, quando apareceu, foi contestado. Porque tinha o cabelo comprido, as casacas justas e por cima do joelho, porque toureava diferente. Moura foi contestado. É um Mestre, trinta nos depois e ainda não apareceu quem lhe chegasse aos calcanhares. Ao arquitecto Taveira chamaram todos os nomes quando fez as Amoreiras. E depois...
Ontem, Moura inovou também. Em fim de festa e depois de magistral actuação com o "Merlin", trouxe o cavalo até aqui utilizado por seu filho Miguel e que deu também umas dentadinhas no toiro...
Com isto, quis dizer duas coisas: que foi mal interpretado na célebre entrevista à Solange e que não está contra as mordidelas do "Morante" de Ventura; e, já agora, que é o Maestro dos Maestros e também sabe fazer o que o "furacão" faz, não será por isso que haveria alguma vez de ficar "por baixo"!
A Festa é isto. A Festa, cinzentona como está cá pelo burgo, precisa é de "picardias" destas para continuar viva. O que faz falta é agitar a malta - como cantava o Zeca Afonso!

Fotos João Dinis/www.touroeouro.com