terça-feira, 29 de maio de 2012

Soluções para a crise: existem?


Miguel Alvarenga - A corrida de domingo na Moita terá desmotivado uma das nossas primeiríssimas Figuras, António Ribeiro Telles, levando-o mesmo a equacionar a possibilidade de parar, como outros já o fizeram. É a solução? Penso que não. Nem acredito que António o faça. É natural o desânimo, é natural o seu estado de espírito, tendo em conta que é um toureiro que vive de tourear - e precisa de receber.
Não houve dinheiro na Moita, dizem. A culpa é do empresário? "Nené" leva mais de trinta anos de carreira profissional - séria. De um momento para o outro deixou de ser sério e deixou de pagar? Claro que não. Os toureiros também têm culpa? Claro que têm. Anunciando-se em todo o lado, como pensam levar gente às praças? Se os artistas que vêm, por exemplo, ao "Rock in Rio", andassem a cantar todas as semanas em todas as terras, alguém os ia ver? Podem os toureiros exigir elevados cachet's às empresas quando não têm força de bilheteira para levar gente às praças? Não podem.
Há uma crise económica - todo o mundo sabe. Mas há, na tauromaquia, uma assustadora crise de valores. As praças não podem encher quando se anunciam sempre os mesmos toureiros. E há novos que despertem o interesse do público? Também não há. Que fazer, então?
Os empresários reunem-se, fazem assembleias-gerais, discutem o sexo dos anjos, mas não tomam medidas nenhumas no sentido de combater a crise. Há soluções.
Primeira: em vez de 200 ou 300 touradas por ano, passem a realizar 40 ou 50 - e mesmo assim, talvez sejam demais. Há que devolver à corrida de toiros o esplendor e o carisma de outros tempos. Hoje é um espectáculo banal, sempre igual e sempre com os mesmos em todas as praças.
Menos corridas implica uma revisão total da situação. Implica rever os cadernos de encargos e os preços de aluguer das praças. Implica uma série de toureiros, que não andam cá a fazer nada, irem para casa. Grupos de forcados, iden, iden, aspas, aspas. Ganadarias também. Mas há que tomar medidas e precauções antes que isto acabe naturalmente, de morte natural.
Pensem nisso: 10 corridas por ano no Campo Pequeno, o palco número-um da nossa tauromaquia. 3 na Moita na Feira de Setembro, como era antigamente. A de Maio bem pode ir à vida, não faz falta. 2 corridas em Évora (Concurso de Ganadarias e outra), 2 no Montijo, como era dantes (S. Pedro e outra), uma em Montemor pela Feira de Setembro, uma na Chamusca na quinta-feira de Ascenção, outra na Azambuja em Maio, 2 no Redondo e 2 em Elvas, mais 3 ou 4 nas datas de festas alentejanas (Reguengos, Portalegre, etc.), 3 em Alcochete nas festas do Barrete Verde - e poucas mais.
Estava a temporada feita. Só com grandes corridas, grandes acontecimentos e grandes toureiros. Toureavam menos, mas cobravam mais. As alternativas eram menos e o público iria mais. Penso que a solução passa por aqui. E por mais nenhuma outra opção.
Exceptuando, claro está, as corridas de Verão: Nazaré, Figueira da Foz e obviamente Albufeira.
Continuar como está - não dá. Corridas a toda a hora e sempre com os mesmos toureiros? Viu-se domingo na Moita: o público não vai, não pode ir. Santarém no próximo domingo é outro teste importante: oxalá não seja outro "buraco". Na próxima semana, Rouxinol, por exemplo, toureia três ou quatro corridas seguidas: é a Figura do momento, o toureiro imparável no que a triunfos diz respeito. Mas ir vê-lo dias seguidos, acham que o público vai? Rui Bento tem carradas de razão quando diz que a gestão dos toureiros devia ser mais cuidada. Mas essa não é a única solução para fazer frente à crise.
Organizem-se, reunam-se, tomem decisões. Mas não passem a vida a perder tempo, a discutir apenas e só o sexo dos anjos. Assim não se chega a lado nenhum.
Qualquer dia é como a foto o documenta: um espectador por corrida e mesmo assim não irá a todas...

Foto Javier Martínez/www.sevillataurina.com