segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O recital apoteótico de João Telles ontem em Alcochete

O segundo ferro comprido no toiro de Prudêncio, que abriu praça
Sequência de alguns ferros de parar corações! João Telles foi o triunfador
da tarde ontem em Alcochete, com o toiro de Rio Frio


Miguel Alvarenga - Depois de já ter dado o mote e estado brilhante no primeiro toiro do seu lote, também o primeiro da corrida, da ganadaria Prudêncio, mansote e reservado, João Ribeiro Telles Jr. deu ontem em Alcochete um verdadeiro e apoteótico recital de bom toureio frente ao toiro de Rio Frio, o melhor do concurso e que venceu muito justamente o prémio "bravura".
O jovem cavaleiro, a viver o melhor e mais entusiástico momento da sua carreira, cavalgando a passos largos para o trono de Triunfador da Temporada (honraria que anda a disputar com Moura Caetano e Marcos Bastinhas) foi autor de uma lide de muita emoção e que contagiou o público - e não só. Até o Maestro João Moura lhe bateu palmas na trincheira e não poupou elogios, no final da corrida, ao filho do seu antigo competidor João Palha Ribeiro Telles: "Esteve, de facto, muitíssimo bem e talvez tenha sido a grande actuação da vida", disse-nos.
Foi tudo bem feito e não houve uma falha a apontar. Brilhante nos ferros compridos, João Telles levou depois o público ao rubro nos curtos, os últimos dois foram de parar corações. Moral ao alto e uma quadra de cavalos excelente estão a motivar Telles de tarde em tarde. A expectativa é agora enorme para o ver em Lisboa na Corrida TV, no próximo dia 22, onde vai "medir forças" com Moura Caetano e o jovem João Maria Branco.
Ontem em Alcochete, a tarde foi indiscutivelmente de João Ribeiro Telles - e a sua segunda actuação, com o toiro de Rio Frio, fica na história desta temporada como a melhor, até ao momento. E na sua, como a tarde mais inspirada de sempre. Melhor era impossível.
Na corrida de ontem (de que publicaremos mais fotos já a seguir), disputava-se entre seis prestigiadas ganadarias o 31º Concurso de Ganadarias Associadas, uma corrida com tradição de três décadas nesta importante Feira de Alcochete - uma organização da empresa "Toiros & Tauromaquia", de António Manuel Cardoso "Nené", o empresário taurino mais antigo do país e que sempre primou, desde os seus inícios (em sociedade, ao tempo, com Rogério Amaro) pela imposição da seriedade e do toiro de verdade nas suas praças.
O toiro de Prudêncio, que abriu praça, bem apresentado, foi mansote e reservado, procurando quase sempre o refúgio em tábuas; o de Branco Núncio, aplaudido pelo seu trapio, deixou-se tourear sem dar nota de bravura; o de José Lupi, também manso, não colaborou; o melhor toiro da tarde foi o de Rio Frio, com comportamento genial; o de Dias Coutinho era o toiro da discórdia, tinha sentido "a mais", andou parado pela arena, foi o que foi com os forcados (ler notícias anteriores), mas acabou por ser o toiro que mais emoção trouxe ontem à arena de Alcochete, mais pela sua má qualidade que por qualquer sinal que possa prestigiar a ganadaria; por fim, o toiro de Passanha foi colaborante e sonso, mas permitiu a Miguel Moura exibir o temple e a arte que são apanágios da Dinastia Moura.
Apreciada que já ficou, em notícias anteriores, a actuação triunfal dos Forcados de Alcochete, vamos agora aos restantes cavaleiros numa corrida que registou óptima entrada de público: em tarde de muito calor, estavam cerca de três quartos das bancadas preenchidos, o que é notável e revelador de que a praça teria enchido se a corrida fosse à noite. Importante também era o cartel, do qual "caira" Francisco Palha, mas que estava formado com base nas novas estrelas do toureio a cavalo. À semelhança do que outras empresas têm feito, também a "Toiros & Tauromquia" está este ano a apostar nos elencos com as novas figuras - o que é saudável.
Mateus Prieto foi ontem a Alcochete substituir Francisco Palha. Ao lado do triunfador João Telles e do bem rodado Miguel Moura, que apesar de ser ainda praticante (sem alternativa), vem somando triunfos de alto nível na vizinha Espanha, este cavaleiro era o "elo mais fraco" da corrida, não apenas por estar menos placeado que os companheiros, mas também por não ter ainda uma quadra de cavalos do nível das dos outros dois. Mesmo assim - e aí reside o valor do seu (também) triunfo ontem em Alcochete -, Mateus Prieto esteve à altura do desafio. Lidou acertadamente o toiro manso de Branco Núncio, pôs mesmo emoção na cravagem dos ferros e socorreu-se depois dos "violinos" para terminar a lide.
No toiro de Dias Coutinho, ilidável, andou mais "à nora", não esteve exactamente certo na escolha de terrenos, mas fez o que o coração lhe impôs, pôs "a carne no assador", arriscou, deu a cara e o público reconheceu o seu esforço. Pela inexperiência, que se entende, pediu mais um ferro e agarrou em dois. Cravou um curto à meia-volta e tentou por duas vezes colocar uma "rosa", acabando por sair da praça sem o conseguir.
Miguel Moura está "toureado" e vem laureado por importantíssimos triunfos em Espanha. Vive um momento de euforia, embora em início de percurso (que se adivinha de sucesso) e está maduro e torerazo. Esses atributos, próprios de ser filho de quem é e de ter nas veias o mesmo sangue e a mesma raça de seu Pai, fazem dele um dos grandes casos desta temporada - a primeira à séria. Miguel vem demonstrando de corrida em corrida, aqui e além-fronteiras, que não vai de certeza ser só "mais um" e que vai conseguir vingar, apesar do peso - tremendo - do apelido que traz às costas. O público já exige dele o que não exige de outros, apesar de ainda nem sequer ter a alternativa. E, tal como o Pai nos seus inícios, Miguel Moura já sofre na pela o facto de ser um Moura: ontem, quando no último toiro saíu à praça com o cavalo que "morde" nos toiros, apesar de não lhe ter permitido isso, ouviu alguns assobios...
No primeiro, de Lupi, esteve artista e esforçou-se. No último, de Passanha, um toiro "à medida" para o seu estilo e o seu temple, esteve superior na cravagem e sobretudo na brega e nos adornos finais, a "dois palmos" do toiro. Em suma, foi brilhante e reafirmou que podemos antever ma sua carreira um futuro de êxito.
A corrida foi dirigida com acerto por João Cantinho, abrilhantada pela fantástica Banda de Alcochete e decorreu com ritmo e emoção, com o toiro na base do espectáculo - ou não fosse um concurso de ganadarias - e a juventude a impôr-se por fim. Destaque, frente a toiros duros, para grandes bandarilheiros, em especial Nuno Oliveira, João CurtoJoão Pedro "Juca", João Ganhão e Nuno GonçalvesJoão Ribeiro Telles foi, sem sombra de dúvidas, o triunfador de uma tarde que teve outro herói, o forcado Vasco Pinto.
Mais fotos, das actuações de Mateus Prieto e Miguel Moura - já a seguir.

Fotos M. Alvarenga