segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sequência da histórica tarde de Vasco Pinto ontem em Alcochete

O toiro da discórdia: o exemplar da ganadaria de Dias Coutinho que deu ontem
água pela barba aos Forcados de Alcochete...
Vasco Pinto brindando a pega. Mal sabia ele o que o esperava a seguir...
ou talvez soubesse e por isso tivesse dado o exemplo e guardado para si
a pega do mais difícil toiro da corrida de ontem...
1ª tentativa: toiro "despejou" o grupo mesmo junto às tábuas
2ª tentativa: Vasco Pinto voltou a não conseguir concretizar, apesar da brilhante
e oportuna intervenção do primeiro-ajuda e de todo o grupo...
3ª tentativa: novamente todos "pelos ares"...
4ª e última tentativa de caras: toiro voltou a destroçar o grupo, apesar das ajudas
carregadas e do brio, uma vez mais, do heróico Vasco Pinto
Primeira tentativa de cernelha: teve os dramáticos resultados que as fotos
documentam. Os dois forcados foram pura e simplesmente "cuspidos"...
Por fim, concretizada a cernelha ao segundo intento. Público aplaudiu de pé!
Sentado no estribo da trincheira, depois da sua "batalha", observado por João
Pedro Bolota, António José Pinto (seu pai) e o Dr. Manuel Passarinho

Vasco Pinto (de costas) com seu pai, o grande forcado António José Pinto

Mateus Prieto, Pedro Belmonte e Vasco Pinto agradecendo as ovações do público


Miguel Alvarenga - Momentos antes do início da corrida, vinha sózinho pela rua, forcado e barrete na mão e dirigiu-se à estátua que perpectua, frente à praça de Alcochete, a memória de Hélder Antoño, que ali perdeu a vida pegando um toiro, onde se conteve alguns segundos rezando.
Vasco Pinto, cuja imagem surge agora em grandes cartazes nas ruas de Alcochete como candidato pelo CDS/PP à Câmara Municipal nas eleições autárquicas de Setembro, cabo do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete e filho de uma das maiores referências da forcadagem local, o enorme António José Pinto - foi ontem o herói da tarde na corrida de Alcochete, primeira das Festas do Barrete Verde e das Salinas.
O grupo que lidera tinha efectuado quatro grandes pegas e reafirmado o grande momento que atravessa (é, apenas e só, um dos melhores grupos de forcados da actualidade e Vasco Pinto tem sido dos forcados mais premiados nas últimas temporadas, sendo indiscutivelmente um dos grandes na arte de pegar toiros, se não mesmo o maior forcado do momento em Portugal). Em praça estava o quinto toiro da corrida (concurso de ganadarias), o exemplar da ganadaria de Dias Coutinho, afinal, o toiro por que todos esperavam. O cavaleiro Francisco Palha, dias antes, tinha-se negado a participar nesta corrida, para a qual fora o primeiro toureiro contratado pelo empresário António Manuel Cardoso "Nené", alegando recusar-se, por "não concordância", a enfrentar esse toiro. A empresa substitui-o pelo jovem Mateus Prieto, que lidou o toiro como pôde, colocando emoção e verdade e tentando vencer as dificuldades que o oponente, manso e cheio de sentido, com idade e trapio, impôs ao longo da lide. Como também era de esperar, Vasco Pinto reservou para si a pega de caras ao mais complicado toiro da corrida.
Seguiram-se momentos de grande dramatismo e de tremenda emoção - mas reveladores da raça, do estoicismo, da valentia e da arte sem fim deste Forcado enorme.
O toiro dava arrepiantes "arreões" e pura e simplesmente despejava, "sem dó nem piedade", o forcado e os restantes elementos, projectando Vasco Pinto com violência para o solo. O forcado esteve bonito e toureiro nos cites, valente a recuar e a fechar-se, mas por quatro vezes "foi derrotado", assim como os elementos do seu grupo, que apesar da eficiência e da vontade, da coesão e do querer, não conseguiram vencer o "toiro impegável". Por fim e já fortemente combalido, todo ensaguentado e visivelmente diminuído, o heróico Vasco Pinto solicitou ao director de corrida João Cantinho que saissem à arena os cabrestos e foi ele mesmo, com o rabejador Pedro Belmonte (filho do também antigo forcado Vasco Belmonte, que pegou nos Amadores de Alcochete e nos Lusitanos), tentar a sorte de cernelha.
O toiro, cheio de sentido, nunca chegou a encabrestar e à primeira entrada, os dois forcados foram violentamente "cuspidos". Pinto e Belmonte acabaram por concretizar a pega de cernelha ao segundo intento, quando o director de corrida já dera ordem para recolher o toiro. No final, foram ao centro da arena com o cavaleiro Prieto e escutaram a segunda grande ovação da tarde - a primeira fora prestada, no toiro anterior, ao triunfador João Ribeiro Telles Jr. (ler reportagem que publicaremos a seguir).
A sequência que aqui fica, das quatro tentativas de caras e das duas de cernelha, há-de ficar na História como um hino à arte de pegar toiros - mas também, e sobretudo, a um Grande Forcado: Vasco Pinto.
Como anteriormente se noticiou, Vasco Pinto foi observado esta madrugada no Hospital de São José, em Lisboa, onde chegou a admitir-se a hipótese de o operar, por haver sofrido uma lesão no maxilar, possibilidade que foi depois afastada. O valente cabo acabou por ter alta e regressar a casa já de manhã, onde agora fará a recuperação.

Fotos M. Alvarenga