Miguel Alvarenga - A mais mediática
corrida da temporada em Albufeira (Algarve), realizada ontem à noite com o selo
da discoteca "Bliss" de Vilamoura e que incluia a presença das duas
maiores Figuras do toureio nacional, os Maestros João Moura e Joaquim Bastinhas
e ainda do valoroso Tito Semedo, a cumprir este ano o 20º aniversário da sua
alternativa, acabou por ser um escândalo - e não deixou história, muito por
culpa dos toiros da ganadaria de Jorge Mendes, cheios de sentido, alguns com
presença, mas sem força, pequenos mas com cinco anos e dois deles com
"defeito". O primeiro, que cabia a Moura e o quinto, de Bastinhas,
lesionaram-se incompreensivelmente e da mesmíssima forma, nas patas dianteiras e recolheram aos currais, "meio mortos" e sem chegarem a
ser pegados...
O "barato sai caro", como diz
o povo. Lamente-se que o empresário Fernando dos Santos, com a experiência que
lhe advém de ter sido uma referência na história do nosso toureio a pé e um
empresário - e ganadeiro, ainda por cima! - com mais de trinta anos de
actividade, não tenha cuidado, no aspecto dos toiros, de uma corrida com a
importância desta. O público saíu, obviamente, defraudado e no final da corrida
houve protestos e até mesmo devolução do dinheiro dos bilhetes a inúmeros
espectadores que se sentiram, com razão, lesados e incrédulos com o escândalo a
que assistiram.
O Regulamento Tauromáquico não obriga a
substituir pelo "sobrero" um toiro que se lesione em praça depois de
já ter levado um ferro, que seja. O director Agostinho Borges (que há dias
passara por situação semelhante numa corrida realizada na praça alentejana da
Terrugem) limitou-se a cumpri-lo e a mandar recolher os dois toiros que se
aleijaram na arena.
Por azar, ontem não havia toiro
"sobrero". Mas o púbico estava devidamente avisado pela empresa, que
o informou dessa anomalia em cartaz afixado na bilheteira e junto das entradas.
Um dos toiros de Jorge Mendes partiu um corno nos currais da praça e entrou em
seu lugar, no sorteio, aquele que seria o toiro "sobressalente", da
ganadaria de Fernando dos Santos, Herdade das Sesmarias - lidado em último
lugar por Tito Semedo e que se revelaria o melhor toiro da noite.
Perante toiros defeituosos e que, para
mais, tinham escassa força e não transmitiam, os Maestros Moura e Bastinhas não
tiveram matéria prima para brilhar e acabaram por lidar apenas "toiro e
meio" cada. Com um cartel "deste calibre" impunha-se, no mínimo, um maior rigor empresarial na escolha de uma ganadaria que proporcionasse à partida o mínimo de garantias, mas...
Não acredito que, depois de um "quadro de miséria" como o de ontem, os estrangeiros tenham vontade de voltar a Albufeira e os portugueses, esses muito menos. O que ontem se viu em Albufeira foi tudo menos aquilo que deve ser - e tem que ser - uma verdadeira corrida de toiros...
João Moura não terminou a lide do seu
primeiro, pela referida lesão do animal. Esteve depois superior e "à
Moura" no segundo, deixando transparecer toda a casta e toda a maestria
que o mantém, há quatro décadas, no trono do toureio equestre mundial.
Joaquim Bastinhas, com actuação regular
no seu primeiro, teve depois no segundo do seu lote (ainda por cima, aquele que
parecia ser o melhor toiro do lote de Jorge Mendes) uma lide brilhante, ao seu
melhor estilo, contagiando as bancadas com ferros em sortes frontais. A euforia
acabou quando o Maestro de Elvas se preparava para galvanizar com o habitual
par de bandarilhas e o toiro "se foi abaixo das canetas"...
Tito Semedo teve uma destacada actuação
no seu primeiro toiro, um animal bem apresentado, com 470 quilos, mas manso e
refugiado em tábuas. Praticamente sem a intervenção dos seus bandarilheiros,
desde que recebeu o oponente à porta da gaiola, Tito esteve empenhado e
valoroso na brega, esforçando-se por sacar faena a um toiro que a não tinha.
Brilhou sobretudo nos ferros curtos, na brega e nos recortes artísticos com o
fantástico cavalo "Vereador", que horas antes da corrida referira ao
"Farpas", em entrevista publicada ontem, que era um dos grandes cavalos da
sua vida. Em suma, uma actuação que reafirmou o bom momento de Tito Semedo na
temporada em que comemora 20 anos de alternativa.
No segundo, um toiro com raça de
Fernando dos Santos, o cavaleiro esteve "por baixo" do oponente.
Mesmo assim, não defraudou.
Pegaram, com brilhantismo, os Forcados
de Montemor e os de Beja. A grande pega da noite foi executada por Luis
Valério, do Grupo de Montemor, ao último toiro, com uma eficiente ajuda de Francisco Zenkl, cavaleiro
tauromáquico e também forcado do grupo montemorense.
Destaque-se o bonito e solidário gesto
dos Amadores de Beja, que abdicaram de pegar o último toiro da noite (que lhes
cabia em sorte), cedendo-o aos companheiros de Montemor, que, por lesão dos
seus dois toiros anteriores, apenas haviam efectuado uma pega.
Em suma, uma corrida com pouca história,
que deveria ter sido cuidada e não o foi. Era a "Corrida do Ano" no
Algarve, acabou por ser uma "bullfigtezita" indigna onde não se
dignificou a Festa e muito menos se respeitou a presença em cartel de duas
máximas Figuras do nosso toureio a cavalo.
Foi pena...
Fotos D.R.