segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2013: os MOMENTOS e os FACTOS que me marcaram

Pablo Hermoso e o Campo Pequeno - umas (poucas) vezes cheio, outras nem por
isso, o Campo Pequeno voltou a ser, por todas e mais algumas razões, a praça que me
marcou neste ano. Em ano de crise, a gestão de Rui Bento fez milagres e algumas
das corridas de Lisboa ficam na história. Uma delas foi esta, a 16 de Maio, com o
inigualável Pablo Hermoso de Mendoza a ser de novo o toureiro que mais gente levou
às bancadas da primeira praça do país. A cena repetiu-se em Setembro, quando ali se
voltou a apresentar, mas desta vez sem o sucesso da primeira noite, por obra e
(des)graça de um tristemente recordado curro de toiros da ganadaria Passanha.
Mesmo assim, marcou-me Pablo Hermoso nesta primeira corrida. E marcou-me não
apenas pela sua genialidade, mas também pela sua, ainda e sempre, força de bilheteira.
Pablo e José Cid (no recente concerto) foram os artistas que encheram o Campo
Pequeno
em 2013! E o resto... foram cantigas!

Foto Emílio de Jesus
O acidente de José Luis Gonçalves - infelizmente, foi este um dos momentos que
marcaram, pela negativa, o ano de 2013. Era o final de Julho e o antigo matador
José Luis Gonçalves (na foto, com
Rui Bento e José Maria Manzanares na noite de 4
de Julho no
Campo Pequeno, três semanas antes da tragédia) participava, nos estúdios
da produtora "Endemol", no ensaio final do programa "Dança com as Estrelas", em que
ia participar, na TVI. Uma queda de umas escadas do cenário deixou-o marcado para
a vida.
José Luis sofreu um gravíssimo traumatismo crânio-encefálico de que jamais
recuperou, apesar dos dias de esperança na semana seguinte ao acidente, em que
registou surpreendentes e inesperadas melhoras. Depois voltou a recair, sofreu três
operações à cabeça e está hoje internado num centro de reabilitação em Cascais
sem que se possa prever uma recuperação positiva que o traga de volta ao nosso
convívio, pelo menos, tal como ele
era - e como esta foto bem o recorda.

Foto Emílio de Jesus
O ano da morte de José Maria Cortes - porque sou Pai, porque o admirava como um
dos maiores Forcados dos últimos anos, porque sou Amigo de seu Pai (
João Cortes),
mas sobretudo porque a violência da sua morte foi mais um exemplo do estado a que
chegou, infelizmente, esta espécie de país, banhado pelo sangue de uma trágica
"democracia" de que já todos estamos fartos, o triste fim de José Maria Cortes foi um
dos momentos que mais me marcaram no ano que agora chega ao fim. A dor dos
aficionados, a dor dos
Forcados e a dor do Grupo de Forcados Amadores de
Montemor, que ele tão bem comandava - foi a minha dor. Esfaqueado no coração
durante uma rixa na Feira de Alcácer do Sal, em Junho, viria a morrer poucos dias
depois no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Dois dias antes, fizera na arena do
Campo Pequeno uma das grandes e recordadas pegas da temporada 2013 (na foto de
cima, quando dava aquela que viria a ser, e mal nós sabíamos, a sua última e gloriosa
volta à arena lisboeta). O seu enterro, depois de o corpo ter sido velado por milhares
na Igreja de São João de Deus (foto de baixo), foi o ponto final num pesadelo que a todos
marcou em 2013. A memória de
José Maria Cortes, essa, permanece intacta, mas a
triste realidade é que já não está entre nós um jovem na flor da idade e que encarava
a vida, os Amigos e a arte de ser
Forcado com um sorriso que nunca mais vamos
esquecer.

Fotos Francisco Romeiras e M. Alvarenga
A última grande lição de Manuel Jorge de Oliveira - aconteceu na praça de toiros do
Cartaxo na noite de 21 de Junho, na moldura histórica de uma Corrida de Gala com
lotação esgotada, promovida pela empresa "Espalhar Aplausos" - e que foi um dos
momentos marcantes da temporada 2013. Manuel Jorge de Oliveira, um cavaleiro
que marcou na época áurea de Batista, de Veiga, de Zoio e do despontar do fenómeno
Moura, nos últimos anos arredado da actividade regular, abriu praça e deu aquela
que viria a ser a sua última grande lição. No final de uma aplaudida volta à arena,
chegou-se à trincheira, agarrou no microfone e anunciou que aquela tinha sido a sua
última actuação. Deu mais uma volta com o público de pé e deixou no centro da arena
o seu tricórnio, rodeado de flores, como que a deixar ali a recordação de uma carreira
digna e valorosa, marcada pelo melhor desempenho na nobre arte de lidar toiros
a cavalo. Partiu um grande Toureiro - ficou a memória de grandes e marcantes
momentos que ficam gravados a letras de ouro na História recente do Toureio.
Porque sempre foi um cavaleiro que admirei e respeitei, porque não esperava a sua
decisão de ali dizer adeus, sem nada ter anunciado, a noite de 21 de Junho no Cartaxo
marcou-me - e marcou todos quantos enchiam a praça. Olé e até sempre, Manuel Jorge! Obrigado!

Fotos Emílio de Jesus
Caetano e Bastinhas: o duelo em Santarém! Não fosse o facto de não ter acertado
o compasso nas suas duas presenças no
Campo Pequeno (e Lisboa é a primeira
praça do país!),  João Moura Caetano podia, pelo segundo ano consecutivo, ter sido
eleito o grande triunfador da temporada. Mesmo assim, voltou a ser o cavaleiro mais
premiado da temporada e a verdade é que os momentos únicos que a todos nos
proporcionou em praças tão importantes como as de
Santarém (foto de cima), de
Alcácer ou de
Montemor, para citar apenas três, confirmaram a consolidação de um
toureiro e reafirmaram a genialidade de um cavalo ímpar, o célebre
"Temperamento".
Estas imagens recordam o emotivo duelo vivido a 28 de Julho na arena da
Monumental
de Santarém
com Marcos Bastinhas (foto de baixo) e que elejo como um dos momentos
que me marcaram nesta temporada. O jovem
Bastinhas foi também um dos cavaleiros
que marcaram a diferença em 2013, consolidando e confirmando a sua posição entre
os primeiros e reafirmando o estatuto inegável de Figura do Futuro, que já apontara
nas épocas anteriores. Foi triunfador em inúmeras corridas. Está aqui uma parelha que,
infelizmente (mas nós... ou eles... somos mesmo assim) não mereceu da parte dos
empresários-que-temos a atenção e a implantação que deveria ter tido. Se a Festa
precisa - e precisa mesmo - de emoção, de inovação e de praças cheias, Caetano
e
Bastinhas bem podiam, como os seus pais o fizeram, protagonizar nas arenas uma
rivalidade que, a atestar pelas (poucas) vezes em que competiram, ia de certeza ter
sucesso e contribuir decisivamente para o renascer de novas paixões entre o público.
Estamos a necessitar de abanões. E estes dois cavaleiros podem provocar um
"tsunami taurino" - fica o alerta!

Fotos Hugo Teixeira
Agora falo eu! 2013 foi, indiscutivelmente, o ano da explosão (até que enfim!)
de João Ribeiro Telles. Triunfou pelas praças por onde passou e afirmou-se,
sem deixar margem para dúvidas, como um dos melhores e como uma das
grandes Figuras do futuro. Esta foto é da tarde de 11 de Agosto em Alcochete.
Mas momentos como este - que me marcaram e a todos os aficionados -
houve muitos e em muitas outras praças. O jovem Telles, filho do artístico
João Palha Ribeiro Telles, destoou do classicismo familiar que caracteriza
os toureiros da Torrinha - mas a sua irreverência e a sua diferença foram
marcantes ao longo da temporada. Depois de, como outros "filhos" com históricos
apelidos, ter andado alguns anos a "marcar passo", João protagonizou em 2013
o seu grande e decisivo momento. Mais que isso: deixou expectativa e deixou
um recado de esperança - agora falo eu!

Foto M. Alvarenga
A derrota que se transformou em vitória! Foi na tarde
de 11 de Agosto e teve por palco a arena de
Alcochete.
Recordo o momento como um dos que mais me marcaram
nesta temporada. Vasco Pinto, cabo dos Amadores de Alcochete
e um dos maiores Forcados deste país, ou não fosse ele filho de uma
das grandes glórias dessa mesma arte (
António José Pinto), foi o
protagonista. Várias vezes derrotado por um toiro impegável de
Dias
Coutinho, acabou, já todo esfarrapado, por concretizar a pega de cernelha,
fazendo explodir o público numa das maiores ovações a que este ano
assisti. O enorme
Vasco Pinto deu neste tarde uma lição de valentia, de
raça, de portuguesismo e de coragem. As derrotas iniciais transformaram-se
numa clara e histórica vitória de um Forcado que não virou a cara e que não
desistiu, apesar de ter o maxilar fracturado. Manteve-se de pé como só se
conseguem manter os verdadeiros
Heróis. Deu-nos uma lição do que é,
na verdade e sem rodeios, ser Forcado e manter viva a tradição.

Fotos M. Alvarenga
Coliseu esgotado em Elvas na noite de consagração de Bastinhas! Foi marcante,
pela emoção, a noite de 21 de Setembro no
Coliseu de Elvas, que esgotou a sua lotação
para aplaudir e consagrar uma das efemérides que também marcaram esta temporada:
o 30º aniversário da alternativa daquele que continua a ser, ainda e sempre, o cavaleiro
mais popular e o toureiro mais querido da aficion portuguesa, o Maestro Joaquim
Bastinhas
. As suas três décadas de sucesso foram assinaladas em várias praças e com
repetidos triunfos, mas a noite de
Elvas foi especialmente emotiva, sobretudo no último
toiro, que lidou a duo com seu filho
Marcos. Joaquim Bastinhas continua a marcar
a diferença - e, trinta anos depois, continua a ser verdadeiramente
único!

Foto Emílio de Jesus
Vivo, bem vivo e ainda sem igual! O ano não começou da melhor forma para o Maestro
João Moura
, agastado com as polémicas de Inverno em torno das suas dívidas às
Finanças e aparentemente sem cavalos à sua altura e demasiadas presenças em
"touradas desmontáveis". Mas a temporada de comemoração dos seus 35 anos de
alternativa haveria de levar uma voltareta a meio do ano. Em Lisboa, confirmou que
ainda manda e ainda "trata os toiros por tu". A "pedra no sapato" foi mesmo a tarde
da despedida na sua Monumental de Madrid, marcada por lágrimas na hora de matar
e com sabor amargo no momento do adeus. Mas Moura foi sempre Homem de antes
quebrar que torcer e por que as coisas não podiam ficar assim, na recta final da
temporada anunciou que se encerraria com seis toiros em Elvas - e a magia aconteceu
na tarde histórica de 6 de Outubro. Não lidou apenas seis, mas sete. Repartiu a lide
de dois toiros com seus filhos João e Miguel e os três fecharam com chave de ouro a
corrida num bailado de maravilha protagonizado por pai e filhos. O mais importante,
contudo, foi a mensagem que o Maestro deixou aos aficionados: está vivo, bem vivo
e por mais que isso doa a certa gente, ainda não apareceu quem o igualasse na arte
que ele revolucionou e inovou. Temos Moura para 2014 e para muitos mais anos!
A corrida de Elvas foi um dos momentos mais marcantes da temporada.

Fotos M. Alvarenga
Um verdadeiro compêndio da arte de pegar toiros - foi o que aconteceu no Campo
Pequeno na noite de 18 de Julho, com esta pega de Nuno Marques, cabo dos Forcados
Amadores da Chamusca
e um dos grandes Forcados da actualidade. Desde o pisar
a arena ao cite, à forma como toureou recuando, à decisão com que se fechou e à
forma como consumou a sorte, Nuno Marques deu-nos a todos uma lição de como
se pega um toiro. Foi, no que concerne à forcadagem, um dos momentos grandes
da temporada. Escandalosamente, decorria nesta corrida o tradicional Concurso
de Pegas
da temporada lisboeta... e o prémio foi parar a outras mãos. Mas que importa,
se o que guardei na memória (eu e tantos mais!) foi a arte e a técnica com que o enorme
Nuno Marques pegou este toiro?...

Foto Fernando Clemente
O pequeno-grande Forcado! Francisco Borges, ou não fosse ele filho e sobrinho
de dois grandes Forcados que também honraram (e de que maneira!), no seu tempo,
a histórica jaqueta dos Amadores de Montemor (Francisco e Agostinho Borges,
respectivamente), foi a grande consagração de 2013 e esta pega que aqui recordo,
efectuada em Outubro no Campo Pequeno na Corrida de Gala de encerramento da
temporada lisboeta, fica na história. Também vítima de esfaqueamento na rixa em
Alcácer onde em Junho perdeu a vida o cabo José Maria Cortes, Francisco Borges
recuperou, graças a Deus, e depressa regressou em força às arenas demonstrando
toda a sua raça, toda a sua casta e toda a sua técnica de enorme forcado. Pequeno
de estatura, gigante de coração e valentia, foi um dos casos relevantes de 2013
e um dos forcados que me marcaram ao longo do ano.

Foto Emílio de Jesus
E agora, nós! Há um ano, por esta altura, previ na minha página do "Facebook" que
2013 ia ser um ano de sorte, ou não fosse ele terminado com o número que, graças
a Deus, nunca me trouxe nenhum azar, antes pelo contrário. Terminara 2012 da pior
forma, passando os maus bocados que passámos com a operação ao pulmão do meu
querido filho Guilherme, entrei em 2013 com a moral renovada e com o Gui recuperado
e em casa. O melhor estava para vir e tinha um nome: Ana. Renovei toda a minha vida,
mudando-a. Reencontrei-me e reencontrei o amor. Cruzei o meu caminho e a minha
vida com a Mulher com que sempre sonhei. Juntos, iniciámos um novo caminho e,
quase um ano depois, renovamos todos os dias a nossa paixão e o nosso amor.
Nas praças de toiros - a que voltei, graças à aficion da Ana! - fizemos sucesso e até
nos chamaram "o casal sensação" da temporada. Nunca assisti nos últimos anos
a tantas corridas como as que vi esta temporada. Modéstia à parte, demos brilho
a muitas corridas. E, quanto mais não fosse, sempre fomos alimentando a imaginação
e o humor (que aplaudo!) do responsável pela página da "Passarinha Rapada" no "Face"
(que seria dele sem nós?...). Resumindo e concluindo, em termos pessoais, este foi, 

depois dos anos do nascimento dos meus filhos, o grande ano da minha vida. 
Das nossas vidas! Ana, Obrigado!

Foto Emílio de Jesus

Fotos D.R.