sexta-feira, 13 de junho de 2014

A semana de todas as broncas: se os outros calam, contamos nós...




Ou sou eu que ando com a mania da perseguição e a ver fantasmas onde eles não existem, ou a verdade, verdadinha, é que estão a ocorrer demasiadas anomalias que nos fazem obrigatoriamente duvidar da sanidade mental de quem pulula, e tem responsabilidade, neste atribulado mundinho dos toiros...

No curtíssimo espaço de uma semana, foi a estranhíssima tourada do Campo Pequeno, onde tudo ia descambando numa noite (louvável) de praça esgotada; foi a patética entrevista do antigo cavaleiro Sommer d'Andrade, que disparou em todos os sentidos e chamou todos os nomes aos cavaleiros, empresários e críticos taurinos; foi a acusação do antigo cavaleiro Paulo Caetano ao ganadeiro Joaquim Grave de ter mandado um toiro cegueta para a corrida de dia 10 em Santarém, mais o consequente veto da ganadaria ao toureiro Moura Caetano e também do toureiro Moura Caetano à ganadaria; foi o fim do apoderamento de Caetano por Bolota, que no dia seguinte reviu a sua posição a quente e voltou a deixar tudo como estava dantes; foi a acusação de Filipe Gonçalves, com ameaças de "cabeçadas", a Filipe Ferreira de que o tirada do cartel da sua alternativa nas Caldas; foi a acusação de que o mesmo Filipe Gonçalves tirara Paulo Jorge Santos de uma tourada em Agosto na Arruda; e foi agora o duríssimo comunicado da Associação de Directores de Corrida, que arrasa Ventura e põe em xeque a própria empresa do Campo Pequeno, dando conta de todos os pormenores tornados públicos ao Ministério do Interior de Espanha e ao Tribunal do Comércio de Lisboa, onde decorre o processo de insolvência da sociedade administradora do Campo Pequeno. São coisas a mais...

Esta é a semana de todas as broncas e há que reconhecer que, com gente assim dentro da Festa, não temos que nos preocupar minimamente com os fantasmas dos anti-taurinos. Os nossos, cá dentro, fazem a festa, deitam os foguetes e são, eles sim, os grandes responsáveis pelo estado a que a tauromaquia chegou...

Muito distraídos - e muito discretos, também - têm andado, diga-se em abono da verdade, os anti-taurinos. Se estivessem mais atentos, tinham aqui material de sobra para com um simples sopro deitar abaixo toda a credibilidade da imagem da tauromaquia lusa. Isto ruía num instante, como um baralho de cartas em queda livre...

Primeiro, chega aqui um rejoneador espanhol, ainda que nascido em Lisboa, e dita as leis que muito bem entende, sem que ninguém reaja. Quem devia reagir, agacha-se. Monta os elencos, escolhe os toiros mais cómodos e prepara-os precisamente para que não incomodem, ameaça pôr os cavalos na camioneta e abalar... e a malta estremece, seja como vocelência quiser, vocelência manda... mas manda em quê e, sobretudo, manda por quê?

A empresa do Campo Pequeno calou-se, não tomou posição. Os ganadeiros calaram-se. O representante da ganadaria não pode pronunciar-se, porque é simultâneamente apoderado de um dos cavaleiros escolhidos pelo rejoneador para com ele ombrear na sua próxima corrida em Lisboa e se dá com a língua nos dentes, o toureiro ainda salta fora dessa corrida... e, por isso, calaram-se todos.

O público viu só cinco toiros, depois de ter pago um dinheirão por bilhete e de ter tido a amabilidade de esgotar a praça. Acabou por sair satisfeito, por que Fernandes e Ventura brilharam em grande na lide do toiro sobrero a duo, o toiro que Ventura proibira de entrar na praça e que foi, apenas e só, o melhor da noite... O público do Campo Pequeno continua a ser o melhor público do mundo...

Por explicar, estão as quedas na arena dos toiros da prestigiada ganadaria Charrua, que não tinham a força nem a postura usual. Fala-se em muita coisa, mas em coisas de que não se pode falar, porque não existem provas. E os ganadeiros, porque não vieram a público dar a sua versão oficial dos acontecimentos?...

Há três anos, quando os toiros de Murteira Grave tiveram, também, estranho comportamento (curiosamente), também, numa corrida de Ventura, o ganadeiro não esperou 24 horas para emitir um duro comunicado acusando "mão misteriosa" de ter adulterado o piso da arena e, com isso, condicionado o comportamento dos seus toiros. Mas Joaquim Grave é Joaquim Grave. E os ganadeiros Charrua são homens discretos. Demasiado discretos...

Feitas as contas, calaram-se todos. Menos o director de corrida Pedro Reinhardt. Que, na qualidade de presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Directores de Corrida, veio hoje a público com um duríssimo comunicado, verdadeiro libelo acusatório a Ventura e sua equipa, esclarecendo ponto por ponto tudo o que de estranho aconteceu no passado dia 5 na segunda corrida da temporada do Campo Pequeno...

O documento vai hoje mesmo ser dado a conhecer ao Ministério do Interior de Espanha (que tutela o espectáculo tauromáquico no país vizinho) e também ao Tribunal do Comércio de Lisboa, onde decorre o processo de insolvência da sociedade administradora do Campo Pequeno. Ou seja, a Associação de Directores de Corrida vai provocar um verdadeiro terramoto lá e cá... Era preciso deixar as coisas chegar a este ponto?...

Volto a perguntar, depois de todas as ocorrências que esta semana marcaram a tauromaquia lusa: acham que vale a pena continuarmos a procuparmo-nos com os anti-taurinos, quando a nossa gente se encarrega, sem sequer se dar ao trabalho de bater panelas à porta das praças de toiros, de enxovalhar cada vez mais esta coisa?...

Deixem lá os anti-taurinos descansados e façam mas é um "Prós e Contras" só com a malta dos toiros. Chegam e sobram para botar faladura uns contra os outros e, se preciso fôr, desatarem à estalada uns com os outros em pleno auditório...

Fotos D.R.