quarta-feira, 11 de junho de 2014

Santarém, ontem: a grande gala de Manuel Lupi!

Momentos do cortejo de gala à antiga portuguesa que antecedeu ontem a corrida
de praça cheia na Monumental de Santarém
Regressado após dois anos de ausência, Manuel Lupi brindou
a seu Pai, o Maestro José Samuel Lupi, que foi à arena receber
as aclamações do público. Em baixo, o cavaleiro dando a volta
depois de uma lide memorável



Miguel Alvarenga - O regresso em grande de Manuel Lupi, os triunfos da ganadaria Murteira Grave e dos Forcados de Santarém e o quase-triunfo de João Telles, a par de uma grande e louvável afluência de público, que preencheu três quartos fortes das bancadas em tarde que se iniciou com o sempre apreciado cortejo de gala à antiga portuguesa, marcaram a corrida de ontem na Monumental de Santarém, um espectáculo que foi organizado pelo jovem empresário Jorge Vicente ("Espalhar Aplausos") em parceria com a "Aplaudir" de João Pedro Bolota, esta temporada associado a Possidónio Matias.
Depois de ter estado dois anos afastado das arenas, Manuel Lupi surpreendeu tudo e todos com uma destacada actuação - brindada a seu Pai, o Maestro José Samuel Lupi - parecendo que não esteve parado e que continuou a tourear todos os dias. De facto, Lupi apresentou-se ontem em Santarém em extraordinária forma, bem montado, a fazer tudo bem feito, com arte e temple, com verdade e muita emoção.
Recebeu o toiro "à porta da gaiola" e não parou mais, num crescendo de emoção de ferro em ferro, levantando o público que lhe tributou no fim a maior ovação da corrida no que aos toureiros diz respeito.
Outro cavaleiro ontem em destaque e cuja actuação, por ser a primeira desta temporada, era aguardada com justificada expectativa, foi João Ribeiro Telles Jr. Igualmente bem montado e fazendo alarde de uma classe muito própria, o jovem Telles deu ontem continuidade à cavalgada de triunfos com que marcou a temporada passada. Aquele ferro cravado em terrenos de alto compromisso, frente ao Sector 2, foi qualquer coisa de espantoso e que marca a grande dimensão do toureio de João Telles. No final, para seu azar, falhou em duas tentativas consecutivas o último ferro e acabou por cravá-lo de forma menos ortodoxa e permitindo um toque, o que diminuiu de alguma forma, mas em nada invalidou, o seu grande triunfo.
Em evidência estiveram também os primos Pinto, com Duarte numa lide mais sóbria e mais clássica, entrando pelo toiro dentro em sortes de caras de imenso valor; e Tomás com um toureio "mais moderno", a "meter-se" ousadamente com o sério Grave que lidava, sofrendo alguns toques aparatosos, mas cravando ferros de muita verdade e em terrenos de compromisso.
António Ribeiro Telles abriu praça com a classe que lhe conhecemos, mas ontem sem a mesma casta com que o vimos em Almeirim. Foi uma lide regular, mas de bom tom e com a classe usual do Maestro da Torrinha, com momentos de toureio muito bons diante de um Grave sério e que não facilitava.
A fava, ontem, estava infelizmente destinada a Moura Caetano. O jovem cavaleiro teve pela frente um toiro manso e sem a qualidade dos restantes, que lhe inviabilizou o desejado triunfo e com o qual, mesmo montando o fantástico "Xispa", não conseguiu brilhar de forma nenhuma. A alegada "cegueira" do toiro, empolada por Paulo Caetano, foi-nos desmentida pelo ganadeiro Dr. Joaquim Grave (um tema que aqui voltaremos hoje a abordar - não percam!), mas a verdade é que, tivesse o toiro as deficiências que tivesse (e a mansidão parece que era mesmo a única), a verdade é que Caetano também não esteve ontem com a moral costumeira.
Na generalidade e excepto este, os sérios e bem apresentados toiros de Murteira Grave tiveram ontem notável comportamento em Santarém, destacando-se os lidados em terceiro, quarto, quinto e sexto lugares, cumprindo o primeiro. O ganadeiro foi muito justamente chamado à arena no final da quinta lide, recebendo grande ovação.
Triunfo grande, também, dos Forcados Amadores de Santarém nesta "encerrona" frente aos toiros de uma das mais temidas e mais prestigiadas ganadarias nacionais.
João Grave pegou o primeiro sem dificuldades de maior, com muita decisão e boa técnica. O segundo, o manso de Caetano, foi pegado logo na sua primeira intervenção pelo valente Ruben Giovanni, bem ajudado pelos companheiros, depois de ter saído lesionado, numa primeira tentativa, o forcado Hugo Santana. O terceiro toiro, com 660 quilos, que permitiu o grande triunfo a Manuel Lupi, empolgou pelo trapio e apresentação, mas depois não fez muito mal aos forcados. Pegou-o à primeira, com a técnica e a arte que lhe são apangágios, o grande António Grave de Jesus. Também sem dificuldades de maior, a quarta e rija pega da tarde foi executada à primeira por David Inácio.
As grandes pegas da tarde foram as duas últimas, respectivamente executadas por António Imaginário (à segunda) e António Pombeiro (à primeira), ambos aguentando fortíssimos derrotes, com o grupo a ajudar coeso e bem.
Ao intervalo foram prestadas homenagens na arena à ganadaria Murteira Grave pelos seus 70 anos e também aos bandarilheiros scalabitanos César Marinho e Pedro Gonçalves, que cumprem esta temporada, respectivamente, 50 e 25 anos de alternativa.
Manuel Lupi foi no fim distinguido, com o consenso geral e o aplauso do público, com o troféu destinado à melhor lide.
Bom senso, muita calma e grande aficion marcaram a direcção de corrida, a cargo do antigo forcado Francisco Calado, ex-cabo dos Amadores das Caldas, que manteve louvável serenidade perante situações menos felizes, como o foram as protagonizadas por Paulo Caetano quando protestou pela alegada "cegueira" do segundo toiro e depois por Joaquim Grave, quando exigiu que ele expulsasse Caetano da trincheira.
Enfim, uma tarde grande de toiros, lamentavelmente marcada por cenas menos felizes de bastidores... mas a nossa Festa é assim.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com