sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Reviravolta no Campo Pequeno: como tudo aconteceu

No início deste mês, anunciámos que até ao final do ano haveria grandes novidades
quanto ao futuro do Campo Pequeno. E elas chegaram hoje, numa manhã de
nevoeiro...
João e Henrique Borges com Rui Bento na praça da Nazaré, antes da
insolvência da SRUCP. Os empresários vão retomar a gestão do Campo
Pequeno 
Paula Mattamouros e Rui Bento formaram uma dupla de sucesso
ao longo de 2014. Esta foi a melhor temporada de sempre desde
a reinauguração do Campo Pequeno em 2006
Os administradores judiciais da insolvência, João Gonçalves e Paula Mattamouros
com Fernando Silva Marques, Maestro Joaquim Bastinhas e Miguel e Ana de
Alvarenga no passado dia 5 no "Alfoz" (Alcochete) na Gala dos Óscares, quando
foram muito justa e merecidamente premiados pelo seu importante labor ao longo
deste ano em prol da tauromaquia à frente dos destinos do Campo Pequeno. Neste
dia, já era conhecida a decisão do Tribunal da Relação de devolver a gestão da
primeira praça do país aos anteriores administradores. Em baixo, capa do semanário
"Sol" sobre a queda do Império Espírito Santo que, indirectamente, acabou por ditar
uma reviravolta no processo de insolvência da sociedade que geria o C. Pequeno


Miguel Alvarenga - Sem que uma coisa tenha propriamente a ver com a outra, a queda do Império Espírito Santo acabou por ditar uma reviravolta no processo de insolvência da empresa gestora do Campo Pequeno, que se arrastava desde o início do ano, sem que isso tenha, valha a verdade, afectado de alguma forma o normal funcionamento da temporada tauromáquica - antes pelo contrário. O ano de 2014, gerido pelos administradores judiciais, Drª Paula Mattamouros e João Gonçalves, acabou mesmo por ser o melhor e o mais positivo (até em termos económicos) desde a reabertura da praça (2006).
A notícia divulgada esta manhã pelo jornal "Correio da Manhã", segundo a qual o Tribunal da Relação de Lisboa anulou a sentença de insolvência da Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno (SRUCP) proferida no início do ano pelo Tribunal do Comércio, pelo que os anteriores empresários/administradores, as Famílias Borges e Goes Ferreira, deverão retomar a gestão da primeira praça do país, não apanhou propriamente de surpresa os "mais bem informados" do meio taurino nacional.
A decisão do Tribunal da Relação depois da reapreciação do processo (por recurso interposto pelos anteriores administradores) era conhecida desde finais de Novembro (foi tomada dia 24) e, se bem se lembram, no início deste mês já aqui tínhamos adiantado que até ao final do ano surgiriam "grandes novidades quanto ao futuro do Campo Pequeno". O próprio Rui Bento (director de Actividades Tauromáquicas da primeira praça de toiros do país) tinha-se referido a isso, sem especificar, durante um jantar de homenagem ao nosso repórter Emílio de Jesus realizado no Museu Taurino de João Simões em Almeirim no dia 1 de Dezembro.
Na última terça-feira, a Drª Paula Mattamouros (que desde o início do ano tomou as rédeas do Campo Pequeno como administradora judicial da insolvência) anunciou a novidade (a decisão da Relação) a todos os funcionários da empresa durante o almoço de Natal da SRUCP - uma espécie de despedida, já que a sua missão terminou.
Com a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, a sociedade gestora do Campo Pequeno - constituída pelas Famílias Borges e Goes Ferreira (45% cada) e pelo BCP (10%) recupera o estatuto de não insolvente e vai reassumir a gestão do espaço. Mesmo assim, "a sociedade não está solvente, apenas foi declarada não insolvente", explica o "Correio da Manhã", citando fonte próxima do processo.
A primeira sentença, agora anulada, foi proferida no início do ano pelo Tribunal do Comércio de Lisboa, que deu provimento a uma acção interposta pela construtora Opway (do grupo Rioforte, uma sociedade do Grupo Espírito Santo, agora considerada insolvente), que reclamava uma dívida de 30 mil euros. A SRUCP foi então considerada insolvente por dívidas totais na ordem dos 90 milhões.
Na altura, oa administradores do Campo Pequeno também avançaram com uma queixa na Justiça contra a referida construtora (responsável sobretudo pelas obras no parque subterrâneo), acusando-a de prejuízos e danos (nomeadamente, pela existência de infiltrações), queixa essa que não terá sido tida em conta pelo Tribunal do Comércio, mas que o foi agora pela Relação.
Em favor dos anteriores administradores pesou também, na reapreciação do processo pela Relação de Lisboa, o facto de não existirem quaisquer dívidas ao Estado, nomeadamente à Segurança Social e ao Fisco e de todos eles terem "o nome limpo na praça".
Ao longo deste ano e em particular nas últimas semanas, os habituais profetas da confusão fizeram correr os rumores de que vários compradores se perfilavam para tomar conta (adquirir) da concessão do Campo Pequeno (propriedade da Casa Pia), entre os quais chineses, angolanos e outros...
Ao contrário, o naufrágio do BES acabou por ditar uma reviravolta no caso: os Borges regressam ao Campo Pequeno (e regressam, como D. Sebastião nunca chegou a regressar, numa manhã de intenso nevoeiro...) e em breve realizar-se-à uma assembleia-geral da sociedade para a reorganizar, estabelecer um plano de pagamentos e formular uma estratégia de futuro para o Campo Pequeno.
Rui Bento (que se encontra em Espanha, de onde regressará amanhã) continua na gestão taurina da primeira praça do país e a Família Borges volta em força, depois de ter sido responsável por todo o processo de reabilitação da centenária praça de toiros, reinaugurada em 2006.
Termina aqui o curto, mas marcante, reinado da Drª Paula Mattamouros e de João Gonçalves - muito justamente premiados pelo "Farpas" no início do mês pelo seu dinâmico e empreendedor desempenho ao longo da temporada em prol da tradição e da cultura  tauromáquica - a quem devemos aplaudir na hora da despedida.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com