terça-feira, 26 de julho de 2016

A primeira grande entrevista: António, o novo Núncio, confessa-se ao "Farpas" a dois dias da estreia no Campo Pequeno

Momentos dos últimos treinos intensivos, esta semana, a preparar a estreia
no Campo Pequeno, de casaca e tricórnio, já depois de amanhã. Em baixo,
António Núncio na sua sala de recordações



Chama-se António o novo Núncio que depois de amanhã se estreia no Campo Pequeno de casaca e tricórnio, depois de recentemente ter feito em Évora, com aplaudido sucesso, a prova de cavaleiro praticante. É filho do também cavaleiro de alternativa Francisco Núncio e bisneto de Mestre João, o Califa de Alcácer, ainda e sempre a grande referência do toureio a cavalo em Portugal. Carregar aos ombros o apelido Núncio é, para António, uma grande responsabilidade, mas também, confessa, um orgulho. João Moura é a sua referência, o toureio mourista (que é o mesmo que dizer, o toureio moderno) é o rumo por onde enveredou, fugindo um pouco ao classicismo que carcateriza os Núncios. António sabe o que quer e para onde vai. Com firmeza e muita serenidade, caminha para o futuro com certezas e metas a cumprir. Gostava de um dia fazer qualquer coisa que marcasse a diferença, gostava de ser a figura, o rei por que todos continuam à espera. Vamos ouvi-lo, a 48 horas de o irmos ver fazer a estreia a Lisboa.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- António, o significa para ti o apelido Núncio?
- Significa responsabilidade, orgulho, medo de errar, até mesmo de falhar. Mas, acima de tudo, orgulho por poder carregar este nome de peso que tanta diferença marcou nas arenas portuguesas e estrangeiras e quem sabe talvez eu possa continuar a marcar a diferença nos grandes palcos da Festa Brava continuando assim a elevar o nome que carrego às costas, o nome Núncio!
- O teu bisavô, se assim se pode dizer, marcou uma diferença no toureio a cavalo, pondo em prática o toureio que levava dentro, exigindo o fim do toiro corrido e imprimindo a verdade do toureio de frente e os ferros ao estribo. Tu também queres "revolucionar" alguma coisa no toureio a cavalo?
- Claro que quero! Tal como todos os meus colegas com quem partilho praça, acho que sem essa ilusão não fazia muito sentido trabalhar e lutar dia-a-dia por um sonho!
- De todos os cavaleiros que viste tourear qual, ou quais, os que mais se identificam com o toureio que queres praticar?
- Há dois cavaleiros, ambos de mesmo nome, só que um e sénior e o outro júnior, acho que não e difícil saber quem são eles, João Moura pai e João Moura Jr, ambos praticam o toureio da sua casa, o toureio mourista, que é o que mais me agrada e o que quero praticar fugindo assim um bocadinho à linha clássica da casa !
- É esse cavaleiro um ídolo para ti? Porquê?
- Eu não diria ídolos, mas sim referências, são ambos referências para mim, mais o João Moura Jr, pois é uma pessoa que me tem vindo a ajudar neste caminho. O porquê de serem minhas referências? É fácil! Basta ver a maneira como toureiam e a garra com que andam na praça.
- A tua estreia, enquanto cavaleiro amador, foi em Alcácer, como foram estes anos até chegares à prova de praticante?
- Rápidos, foram quatro anos que nem se deram por eles, mas que valeram a pena. Neste percurso de quatro anos acho que mostrei um pouco do meu querer, houve umas tardes mais conseguidas que outras, mas todos temos dias!
- Este ano entraste para o projecto da empresa Casa do Toureio, como tem sido a experiência até agora?
- Sim, é verdade este ano entrei para a Casa do Toureio, tem sido uma boa experiência! Tanto o Rui Gato como o Miguel Ortega, que pertencem à equipa , para além do bom trabalhado que têm vindo a desenvolver, também têm enraizado uma grande amizade comigo e com a minha família que, no fundo, é a amizade uma base importante para que isto tudo corra da melhor forma e só lhes tenho a agradecer as oportunidades que me estão a conceder.
- Como é composta a tua quadra para este ano?
- A minha quadra para este ano é composta por seis cavalos, na sua maioria cavalos jovens e ainda em evolução, são eles o “Êxito”, “Sebastião”, “Dirceu”, “Guizo”, “Bohemio" e o “É-Habil".
- Em 2016 já toureaste em Évora, Alcochete, Moura e Alcáçovas, como foram essas tardes e noites?
- Já toureei em Évora, Alcochete, Moura e nas Alcáçovas. Em Évora fiz a minha prova de praticante, acho que para a ocasião me correu bem, em Alcochete o fado foi diferente, já não correu tão bem. Em Moura foi outra noite que também fiquei contente pois correu-me bem e nas Alcáçovas correu-me igualmente bem, havia ate um prémio em disputa e fui eu que o conquistei, por isso faço um balanço positivo.
- Dia 28 de Julho, depois de amanhã, farás a tua estreia em Lisboa, no Campo Pequeno, de casaca e tricórnio numa homenagem a Mestre Luís Miguel da Veiga. O que significa para ti essa noite?
- Significa responsabilidade, mas acima de tudo alegria, alegria por poder estar numa homenagem a um grande Senhor e por poder estar no Campo Pequeno a estrear.me de casaca e tricórnio, é um grande passo!
- Já escolheste a casaca para essa noite?
- Já escolhi sim! Escolhi uma casaca verde bordada a prata!
- Tem algum significado especial?
- Não é que tenha um significado muito especial , apenas o facto de o verde ser a cor da esperança e uma das cores que mais gosto!
- Como será o resto da temporada?
- Tenho mais alguns compromissos mas o resto da temporada pode depender muito da minha noite no Campo Pequeno.
- Como vês o actual estado da Festa, és dos que acham que está tudo bem ou muita coisa tem que mudar?
- Acho que há muita coisa a mudar, o público merece mais! Tem de ser feita alguma coisa e é já ! É preciso meter gente nova a competir, é preciso esgotar praças e colocar o público a aclamar um novo Rei da Festa! E acabar de vez com os jogos sujos que estragam a Festa, pois não são os de fora que estragam a Festa, são os que cá andam dentro que a estragam, às vezes sem se aperceberem!
- Serás tu a figura a cavalo que tantos aficionados reclamam?
- Não sei, infelizmente não tenho a capacidade de prever o futuro, mas eu gostava que sim, mas só há uma coisa a fazer, é trabalhar para tal e esperar que assim o seja!
- Queres deixar uma mensagem aos aficionados que te irão ir ver a Lisboa na próxima quinta-feira?
- Venham todos ao Campo Pequeno depois de amanhã , vamos prestar uma bonita e justa homenagem ao Grande Senhor e Mestre Luís Miguel da Veiga, vamos encher Lisboa para que a nossa Festa Brava não morra, vamos pôr a Festa no sítio que ela merece.

Fotos Florindo Piteira