segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

António Nunes em entrevista: "Este ano a Sónia Matias fará 4 corridas num dia!"



Em entrevista exclusiva ao "Farpas" o apoderado e empresário António Nunes garante que esta temporada ainda irá mais longe - e mais alto - que na última e vai conseguir a proeza de Sónia Matias, transportada novamente de helicóptero, actuar em quatro corridas num mesmo dia, três em Portugal e uma em Espanha. "Gosto de desafios", afirma. E revela, como aqui já adiantámos, que pode ter um novo apoderamento na calha.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Que perspectivas para 2017, António Nunes? Continua a apoderar Sónia Matias? E confirma que pode haver um novo apoderamento?
- As perspectivas são boas, apesar de muita gente continuar a dizer que o momento é difícil. Continuo a apoderar a cavaleira Sónia Matias, que é uma figura consagrada e desejada pelo público e pelas empresas. No ano passado fez 42 corridas e teria chegado às 51, como eu previa, se não tem havido alguns incidentes de percurso...
-... quais?
- A Sónia foi contratada para algumas corridas que depois os empresários não chegaram a realizar. E houve quem a tivesse apalavrado para outras corridas e depois, sem me dizer água-vai nem água-vem, montasse os cartéis com outros toureiros...
- Quanto ao novo apoderamento de que se fala?
- Não gosto de adiantar nada sem estar concretizado. Está na calha um novo apoderamento, na realidade, mas tudo vai depender de um jantar que terei esta semana...
- Houve altos e baixos na campanha de Sónia Matias...
- Na recta final da temporada a Sónia reforçou a sua quadra com três novos cavalos, adquiridos por mim e por meu irmão e as coisas compuseram-se. Neste momento está preparada para os desafios da nova temporada. Foi pena que não tivesse corrido como se desejava a sua única actuação em 2016 no Campo Pequeno que, como se sabe, é a praça mais importante do país e a que marca a trajectória de qualquer toureiro. Mas não faltarão certamente este ano oportunidades de se reencontrar em Lisboa, onde já somou muitos triunfos.
- Em 2016, o António marcou a diferença quando no mês de Setembro a Sónia Matias estava anunciada para três corridas no mesmo dia e muitos diziam que não as conseguiria cumprir, alugando um helicóptero que a permitiu de tourear esses três festejos... vamos ter repetição em 2017?
- Gosto de desafios! E não sou doido. Quando aceitei esses três contratos, sabia que teria forma de os cumprir e cumpri alugando o helicóptero. Compararam essa minha solução às soluções que marcaram  a história daquele que foi o maior apoderado português, o senhor Fernando Camacho e isso encheu-me de orgulho. Não conheci pessoalmente o senhor Camacho, mas já li e já ouvi muito sobre ele. Não procurei imitá-lo e muito menos fazer passar a imagem de que era como ele... Sou e serei sempre eu próprio. Limitei-me a fazer o que tinha que fazer por forma a que a Sónia e eu próprio honrássemos os compromissos que tínhamos assumido. Se vai haver repetição este ano? Claro que vai haver! Mas desta vez a Sónia não toureará três corridas num dia... mas quatro! Vamos procurar conciliar uma data em que surjam três corridas em Portugal e uma em Espanha. É um desafio a que me proponho!
- Falou-se na hipótese de que poderia concorrer a uma praça portuguesa associado ao empresário espanhol José Cutiño... era verdade?
- Este ano, não, até porque Cutiño, como sabem, está associado a uma poderosa empresa mexicana e nunca viria concorrer isolado a uma praça em Portugal. Mantenho as melhores relações e até mesmo uma parceria com José Cutiño em termos de promoção das suas Feiras Taurinas na Extremadura espanhola e a única verdade que posso adiantar é que se um dia voltar a concorrer a uma praça de toiros será associado a ele. Mas não houve qualquer plano nesse sentido este ano. E mantenho igualmente a minha parceria com a empresa de Huelva, onde aliás tenho uma sociedade com um dos empresários, mas no ramo da advocacia e não em termos tauromáquicos.
- Que balanço faz, em termos gerais, da última temporada tauromáquica?
- Passou o tempo dos páraquedistas que por aí apareciam e se assumiam como empresários taurinos. A culpa disso ficou a dever-se muito aos proprietários das praças de toiros, que olharam só ao dinheiro e alugaram as praças a pessoas sem historial e, muitas vezes, sem credibilidade nem provas dadas. Penso que as mentalidades mudaram e hoje, na esmagadora maioria dos casos, as praças estão entregues a empresários competentes. O Campo Pequeno continua a marcar a diferença, temos muitos outros empresários sérios e veteranos na profissão e há hoje alguma expectativa, justificada, face ao desenvolvimento que está a ter a actividade de Rafael Vilhais, que penso que também marcará alguma diferença, a par dos históricos João Pedro Bolota, "Nené", Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho, Joge de Carvalho (de Alter) e outros mais. Talvez continue a haver corridas a mais, mas creio que o tempo vai pôr tudo no seu lugar e a qualidade vai sobrepôr-se à quantidade no que a espectáculos diz respeito.
- No seu balanço da temporada, a cronista Solange Pinto nem fala de si... coloca Pedro Penedo no topo dos apoderados... algum comentário, António Nunes?
- Eu já sou aficionado há muitos anos e mesmo quando ainda não estava directamente envolvido no meio, acompanhava e seguia a tauromaquia. Antigamente, os críticos tauromáquicos eram homens de respeito, respeitados e que se davam ao respeito. Escreviam em jornais, falavam em rádios e na televisão porque tinham mérito, provas dadas e eram chamados para esses lugares. Hoje em dia, com a internet, qualquer um abre um site ou um blog e intitula-se crítico tauromáquico sem sequer sabermos de onde vem... e depois lemos as maiores barbaridades de gente que entende pouco disto e não faz a mínima ideia do que vê... Enfim, são os tempos modernos. Mas para responder directamente à sua questão, dir-lhe-ei apenas que respeito essa opinião da Solange Pinto mas, obviamente não concordo. Só isso.
- Um desejo para 2017...
- Sorte para todos. E que o Campo Pequeno, no ano em que comemora os 125 da sua inauguração, continue a ser o grande timoneiro da temporada nacional. A Drª Mattamouros e o Rui Bento têm sido, como o Miguel escreveu recentemente, os grandes obreiros da grandeza que a Tauromaquia portuguesa está a voltar a ter, inclusivamente a nível internacional. Os apoteóticos triunfos de Padilla marcaram o ano de 2016 e trouxeram um novo alento ao toureio a pé. Penso que, também como o Miguel escreveu há dias, se virará este ano uma importante página na nossa Festa.

Fotos D.R. e Emílio de Jesus