terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Manuel Gonçalves morreu há 7 anos

Manuel Gonçalves: nascido para vencer. Morreu em 2010 com 76 anos de idade
Cada qual em seu estilo e em sua área, três figuras de referência da tauromaquia
nacional: João Moura, Miguel Alvarenga e Manuel Gonçalves. Os três juntos
eram pior que um explosivo!...
A serenidade de um homem sério e vertical. Manuel Gonçalves numa entrevista
televisiva em defesa da Festa Brava
Dois ícones e duas grandes referências do mundo tauromáquico no último sáeculo,
Manuel Gonçalves e Fernando Camacho, na foto com Miguel Alvarenga no Campo
Pequeno. Incompatibilizaram-se nos últimos anos de vida, mas mesmo de costas
um para o outro ainda protagonizaram momentos que marcaram a nossa Festa.

Em baixo, a edição do jornal "Farpas" de Fevereiro de 2010, na semana da morte
de Manuel Gonçalves


Manuel Gonçalves morreu há sete anos. O mais dinâmico e mais empreendedor empresário tauromáquico dos finais do século XX perdeu a vida em consequência de uma queda pelas escadas da casa que estava a reconstruir na aldeia de Mizarela, no concelho da Guarda, onde nascera e onde está sepultado.
Poderia até não ser um grande aficionado, mas era um empresário com uma visão muito à frente dos anos em que viveu. E um homem de palavra, de uma verticalidade e uma seriedade ímpares. Podia levar uma semana a discutir cinco tostões num cachet, mas o que prometia, cumpria escrupulosamente, estivesse a praça cheia ou vazia. Todos sabiam isso.
Empresário taurino e não só, iniciou a sua vida profissional em terras de Moçambique, onde organizou grandes e históricas corridas de toiros com as maiores figuras da época na Monumental de Lourenço Marques (hoje Maputo), sua propriedade até à descolonização.
Depois do regresso a Portugal, apressado pelas circunstâncias revolucionárias do tempo, refez a vida em França e durante vários anos geriu algumas das principais praças de toiros desse país, ali fomentando, depois de Nuno Salvação Barreto, o incremento da corrida à portuguesa com cavaleiros e forcados.
No início dos anos 80 restabeleceu-se em Portugal e fez história gerindo algumas das principais praças nacionais, entre as quais a do Campo Pequeno, onde foi empresário em duas ocasiões. Montou recordadas corridas, como o mano-a-mano entre Domecq e Moura no fim da atribulada "Guerra das Esporas" e depois o mano-a-mano Moura/Ojeda, entre outras ousadas organizações.
"Inventou", lançou e consolidou corridas que passaram a ser data tradicional no nosso calendário taurino, com destaque para a do programa "Despertar" da Rádio Renascença, com a qual esgotou anos seguidos a Monumental de Santarém. Foi também obreiro da Corrida "Correio da Manhã" e destacado organizador das corridas "Farpas" e da RTP.
Chegou a apoderar toureiros, o último dos quais Pedrito de Portugal. E deu a mão a vários, apoiando há trinta anos a ascenção de Luis Rouxinol quando todos o tentavam parar.
Homem de rara visão empresarial e um sentido apurado do espectáculo, foi sobretudo um grande empresário, sem ser um grande taurino. Sabia e tinha a intuição para dar o tiro na hora certa e por isso montou inesquecíveis corridas, como atrás recordámos, caso dos mano-a-mano Domecq/Moura, Moura/Ojeda e outras. Relançou nos anos 90 a moda das corridas de seis cavaleiros, muito criticada na altura, mas que hoje estão de volta e com o agrado de todos.
Faz falta. Muita falta, mesmo. Nada mais foi igual. Haverá sempre um antes e um depois de Manuel Gonçalves. E como Fernando Camacho - com quem se incompatibilizou nos últimos anos de vida - bem dizia, "houve dois Manéis que revolucionaram e marcaram a Festa e foram os únicos que ganharam dinheiro a sério nos toiros, o dos Santos e o Gonçalves".

Fotos D.R.