quarta-feira, 26 de abril de 2017

Alter: a Apoteose do Trio! Praça cheia e Moura a vencer primeiro "round"

Grupo de Alter e Moura Jr. ganharam ontem os troféus em disputa na corrida de
Alter do Chão para a mellhor pega e melhor lide. Na foto, o forcado vencedor
José António Reis e o cavaleiro triunfador João Moura Jr. ladeados pelo presidente
da Câmara, Joviano Vitorino e o empresário Engº Jorge Carvalho
João Moura Caetano bordou o toureiro no seu segundo toiro
João Moura Jr. destacou-se e marcou a diferença ontem em Alter. Venceu o
primeiro "round" da competição com Caetano e Telles. Esperam-se os próximos.
Este é o trio que vai encher as praças nesta temporada
João Ribeiro Telles esteve completo e artista a bregar, a lidar e a cravar com
emoção em duas lides de alto nível
José Paulo homenageado e aclamado de pé pelo público
na hora da despedida. Em baixo, o triunfo da ganadaria de
Paulo Caetano reconhecido numa aplaudida volta à arena
do ganadeiro com Moura Jr. no quinto toiro da tarde


Miguel Alvarenga - João Moura Júnior abriu ontem a sua temporada em que comemora uma década de alternativa ganhando em Alter do Chão o troféu “D. José Atahyde” para a melhor lide. Distinção justa e merecida, unânimemente aplaudida pelo conclave (praça cheia) a quem, na verdade, marcou a diferença numa tarde de alta competição entre o novo Trio da Apoteose, que ontem se viu ser uma fórmula capaz de encher praças e desse modo conquistar novos aficionados. Assim o entendam os senhores empresários.
Jorge de Carvalho, o empreendedor gestor da praça de Alter há vinte anos, deu o pontapé de saída e o exemplo está dado. Nos anos 80, baptizei de Trio da Apoteose o cartel que era composto precisamente pelos pais dos toureiros de ontem, João Moura, João Ribeiro Telles e Paulo Caetano e que mais tarde integrou Joaquim Bastinhas no lugar de Telles. Manuel dos Santos, que viveu uns anos à frente de todos os outros empresários da sua época, anunciou em Lisboa o cartel da Apoteose do Toureio a Cavalo com Mestre Batista, José Núncio e Luis Miguel da Veiga. Temos agora um novo Trio da Apoteose formado por Moura Caetano, João Moura Jr. e João Telles. Aproveitem-no, senhores empresários!

Moura Caetano bordou o toureio 
no segundo

Ontem, a João Moura Caetano, as coisas não correram propriamente de feição no primeiro toiro, o mais bravo da tarde. Até mesmo com o fantástico “Temperamento”, Caetano esteve algo aquém de si próprio, sofrendo alguns toques e deixando dois curtos demasiado traseiros. Não foi uma actuação má, foi apenas uma lide menos brilhante do que aquelas a que nos habituou.
No segundo, a garra veio-lhe acima, Caetano não gosta de perder nem a feijões e encastou-se para rubricar com o “Xispa” uma actuação empolgante e em que bordou o toureio, elevando a sua tauromaquia - de tão própria e consolidada interpretação - ao mais alto dos patamares. Brega primorosa, ferros empolgantes e a pisar terrenos de valor, um êxito, agora sim, “à Caetano”.

Moura Jr. marca a diferença

João Moura Júnior vive, após dez anos de carreira profissional, um momento altíssimo. Está moralizado (mas isso, meus amigos, doa a quem doer, os toureiros têm que estar sempre quando entram em praça) e está, sobretudo, embalado, com atitude de figura e vontade de se distanciar e marcar a diferença. Um filme que não é novo, ou não fosse ele filho de quem é.
Ontem foi autor de duas lides daquelas que marcam e levantam o público dos lugares. Pisou terrenos de compromisso, esteve enorme a lidar e a bregar, com recortes de grande aprumo, arte e emoção e deixou nos seus dois toiros ferros de grande marca e que evidenciaram, na realidade, a sua decisão de comemorar em grande os dez anos de alternativa. Foi um banquete mourista que constituiu também um esplêndido aperitivo para o duelo do próximo sábado em Estremoz com Ventura.

João Telles brilhante e inspirado

João Ribeiro Telles não foi, de modo algum, um mero assistente da velha competição, que passou de pais para filhos, entre Caetano e Moura. Bem pelo contrário, o cavaleiro da ilustre dinastia Ribeiro Telles esteve enorme na brega e muito emotivo na ferragem nas suas duas lides, que resultaram de grande impacto.
É, como seu pai foi, um toureiro de inspiração, de arte e de casta. E ontem deixou tudo isso transparecer na forma como lidou, como bregou e como cravou. Duas actuações de alto nível.
Havia um prémio em disputa e só um o podia levar para casa. Moura mereceu-o indiscutivelmente. Mas há que realçar, por inteira justiça, que embora não premiados, Caetano e Telles não sairam vencidos de Alter. Bateram-se os três que nem leões pelo triunfo. E a corrida resultou empolgante, com ritmo, sem tempos mortos, em crescendo de lide para lide. Por isso, repito: aproveitem, senhores empresários, este Trio da Apoteose que ontem encheu a praça de Alter e proporcionou, como se costuma dizer, uma corrida daquelas que fazem aficionados.

Triunfo ganadeiro do perfeccionista Paulo Caetano

Paulo Caetano é um perfeccionista de alma e coração. O que faz, faz bem feito. Foi (é) um grande toureiro, um excelente mestre de equitação, um apurado criador de fantásticos cavalos Lusitanos para o toureio e para outras modalidade equestre, a Dressage, por exemplo - e é um ganadeiro rigoroso e aficionado. Os seis toiros de ontem, da sua triunfadora ganadaria, tiveram comportamento notável, se bem que alguns pudessem ter transmitido um pouco mais. Mas são estes os toiros que as Figuras exigem - e ontem fizeram o público vibrar.
Paulo Caetano deu aclamada volta à arena no quinto, lidado por Moura Júnior. Público distinguiu-os com calorosas ovações.

Grupo de Alter conquista prémio

Pegaram, como manda a tradição nesta data em Alter, os Forcados de Montemor e os de Alter, vencendo os anfitriões o prémio para a melhor pega pela valente intervenção de José António Reis no último toiro da tarde e que foi, de facto, a pega mais emotiva da corrida pelo que o toiro proporcionou de emoção ao arrancar que nem um comboio, recebendo-o o forcado já para lá da meia praça, toureando-o na cara com arte e fechando-se com tremenda decisão, sendo depois muito bem ajudado pelo grupo, que aguentou estoicamente a investida de um toiro a cem à hora.
Por Montemor foram caras Francisco Bissaia Barreto (à segunda, ou talvez se possa considerar à primeira, os entendidos o explicarão, uma vez que da primeira vez o toiro lhe passou ao lado); Manuel Vacas de Carvalho, que rabejou dois toiros e pegou um, com apurada técnica, à primeira; e Bernardo Dentinho, violentamente derrotado e colhido no chão na primeira tentativa, mas que mesmo inferiorizado se fez com valentia a uma segunda oportunidade, pegando com galhardia e com o grupo, como sempre, a ajudar coeso e bem.
Além do forcado vencedor, pegaram também pelo Grupo de Alter os forcados Elias Santos (cabo) e Diogo Bilé numa valente e bem executada cernelha; e João Airoso, na pega mais complicada da tarde, à terceira, depois de fortemente derrotado nas duas primeiras tentativas.

Despediu-se um Senhor: obrigado, José Paulo!

José Paulo, a grande referência dos emboladores nacionais, fez ontem a sua despedida na mesmíssima praça onde há mais de meio século iniciou a sua actividade. Homem íntegro, grande profissional, pautou a sua vida e a sua carreira espalhando boa educação, cortesia e uma grandeza pela sua humildade. Foi merecidamente homenageado pela empresa ao início da corrida e, com as lágrimas nos olhos, foi depois aclamado de pé por todos no centro da arena. Podia - e devia - ter dado uma volta à arena. A sua vida e a sua história o impunham. Mas na hora da despedida, o grande José Paulo voltou a ser o homem simples e humilde de sempre e não quis essa honraria que lhe era devida. Até sempre - E obrigado, José Paulo, pelo grande contributo que deu, em mais de 50 anos de actividade, em prol - sempre - do engrandecimento da Festa!

E Palomo Linares foi esquecido...

Devido tinha sido ontem também um minuto de silêncio em memória de Palomo Linares, apenas e só um dos toureiros mais marcantes da segunda metade do século XX, falecido na véspera. Mas nem a empresa, nem o director de corrida se lembraram de o fazer. Lamentavelmente.
Àparte essa falha, Agostinho Borges esteve, como está sempre, acertado e cheio de aficion, na direcção desta corrida, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Guerra, também ele um aficionado dos antigos.
Lamentável, também, mas disso não teve o director culpa, o esquecimento de anunciar quem foi o júri dos prémios. Nesta coisas, exige-se clareza e transparência. Por acaso, foram ambos merecidos e nenhum protestado. Mas ninguém soube quem os atribuiu...
Praça cheia no 25 de Abril em Alter, que nada tem a ver com comemorações da abrilada, foi sempre a data da festa local e ninguém tem culpa de que os capitães se tivessem lembrado de fazer o que fizeram na data sagrada dos alterenses…
Um Trio de (grande) Apoteose para a Temporada!

Fotos Maria Mil-Homens