segunda-feira, 24 de abril de 2017

Confirmado: morreu Palomo Linares

Retirado das arenas desde os anos 90, Palomo LInares dedicava-se agora à
pintura e continuava a ser presença assídua nas praças de toiros
22 de Maio de 1972, a tarde mais célebre da sua carreira,
quando cortou um rabo em Madrid
Há um mês, Palomo Linares esteve em Madrid na entrega do Prémio "ABC" a
Morante de la Puebla. Na foto, com Ángel Peralta, Cristina Sánchez e, atrás,
Andrés Vásquez, Simón Casas e Rui Bento
Em 2015 na Monumental de Madrid, ainda com sua mulher, Marina Danko, de quem
depois se separaria, no dia em que descerraram esta placa comemorativa do 43º
aniversário da célebre corrida em que cortou um rabo em Las Ventas, o que ali
não ocorria há 33 anos
Entrevistei duas vezes Palomo Linares. A primeira, no final dos anos 70, no Hotel
Sheraton, em Lisboa, para o semanário "A Rua", num dia em que toureou no
Campo Pequeno; e a segunda em Santarém, nos anos 80, quando cá toureou pela
penúltima vez a substituir o anunciado "Paquirri", que se lesionara dias antes, 

tendo nessa tarde alternado com o malogrado José Cubero "El Yiyo" (foto de baixo)


Depois das contraditórias notícias avançadas e desmentidas ao longo da manhã, chega agora a confirmação, na generalidade da imprensa espanhola, da morte do toureiro Sebastián Palomo Linares ocorrida há cerca de meia-hora no Hospital Gregório Marañón, em Madrid, onde estava já em morte cerebral depois de terem desligado o ventilador.
Palomo Linares, de 69 anos, não resistiu a uma delicada operação ao coração na última sexta-feira, de que jamais recuperou. Morreu às cinco e meia da tarde (quatro e meia em Portugal).
Natural de Linares, onde nasceu a 27 de Abril de 1947, morreu a poucos dias de cumprir os 70 anos de idade.
De família humilde (seu pai era mineiro), viveu uma infância com muitas carências, pois era a época do pós-guerra, trabalhando desde muito pequeno como aprendiz de sapateiro. Desde os oito anos que acorria a tentaderos e capeas, alimentando o sonho de ser toureiro. Nos primeiros festejos em que actuou era anunciado como "El Rata", dada a sua inquietude e irreverência.
Concorreu à Oportunidade dada em Madrid pela empresa Dominguín e Irmãos Lozano e foi um dos maletillas aprovados para participar numa das primeiras novilhadas. Vestiu-se pela primeira vez de luces em 20 de Julho de 1964 na praça de Vista Alegre em Madrid, causando grata impressão pelo seu arrojo e valentia.
Debutou com picadores um ano mais tarde, a 3 de Janeiro de 1965, na praça de Ondara (Alicante), cortando nada mais, nada menos que quatro orelhas e novilhos de Nuñez Guerra.
Tomou a alternativa em Valladolid a 19 de Maio de 1966, apadrinhado por Jaime Ostos, como testemunho de Juan García "Mondeño", cortando as duas orelhas ao toiro "Feíllo" de Galache e as duas ao segundo também.
No ano de 1969 formou recordada parelha com "El Cordobés", na que ficou conhecida como a dupla da "Guerrilha", mantendo ambos a independência e fazendo frente aos poderosos empresários que lhes queriam baixar os honorários. Nesse ano, tourearam ambos em Cascais, contratados por Nuno Salvação Barreto, uma corrida que constituiu um sucesso enorme. Ao longo da sua carreira toureou várias vezes no Campo Pequeno e apresentou-se em Portugal pela penúltima vez no início dos anos 80, na Monumental de Santarém, actuando ao lado do malogrado "El Yiyo" e dos cavaleiros Álvarito Domecq e José João Zoio. Veio em substituição de "Paquirri", que se lesionou dias antes. Poucos anos mais tarde, toureou ainda uma derradeira corrida entre nós na Feira da Moita, onde alternou com Vitor Mendes.
Confirmou a alternativa em Madrid a 19 de Maio de 1970, apadrinhado por Curro Romero, com o testemunho de Juan José.
A partir de então, situou-se sempre nos primeiros lugares do escalafón, protagonizando a 22 de Maio de 1972, em Madrid, a tarde mais célebre da sua carreira, ao cortar em Las Ventas as duas orelhas e o rabo ao seu primeiro toiro, de nome "Cigarrón", da ganadaria de Atanasio Fernández. Há 33 anos que não se cortava um rabo na Monumental de Madrid. Converteu-se a partir daí num ídolo de massas e num fenómeno social da época.
Célebres foram também as suas controversas guerras com Paco Camino, a quem um dia agrediu em directo num programa de televisão, depois de o Maestro o ter apelidado de "muchacho". Numa outra ocasião, protagonizaram ambos uma cena de pancadaria numa praça de toiros, ambos vestidos de toureiros.
Desde a confirmação da alternativa, toureou 28 tardes em Madrid, onde lidou 56 toiros, cortando 15 orelhas e o célebre rabo e saindo duas vezes em ombros pela porta grande. Esteve alguns anos retirado na década de 80 e regressou no início da de 90, toureando em Las Ventas pela última vez a 25 de Maio de 1944.
Como curiosidade histórica, nos seus inícios sempre se vestiu de branco e prata (tal como se apresentou em Santarém na última tarde em que actuou no nosso país - foto ao lado) e só na sua reaparição usou trajes bordados a ouro.
Uma vez retirado, dedicou-se à pintura e fez várias exposições, a última das quais em 2012 na Sala António Bienvenida da Monumental de Madrid. Em 2015, quando se cumpriram 43 anos do rabo que cortou em Las Ventas, foi descerrada uma placa comemorativa da efeméride, acto a que o toureiro compareceu acompanhado da sua mulher, Marina Danko, de quem se separaria no ano de 2016. Era pai do matador de toiros que se anuncia com o seu mesmo nome, Palomo Linares.
Há um mês esteve presente em Madrid na cerimónia de atribuição do Prémio Taurino "ABC" a Morante de la Puebla, um acto presidido pelo rei emérito D. Juan Carlos e onde coincidiu com Rui Bento.
Que em paz descanse.

Fotos D.R. e Luis Azevedo/Estúdio Z