sábado, 15 de abril de 2017

Rui Bento: "Foi o início de uma temporada que vai marcar o futuro da Festa em Portugal!"

"Padilla era o toureiro de que a Festa estava a precisar… aquilo que terá sido
o mexicano Gregório Garcia nos anos 40 está a acontecer precisamente em
pleno século XXI"
, afirma Rui Bento 
 
Rui Bento com a administradora do Campo Pequeno, Drª Paula Mattamouros
Resende: a equipa de sucesso que está a mudar o rumo da Festa em Portugal

A corrida de inauguração da 12ª temporada do Campo Pequeno foi um êxito e o balanço muito positivo. Num ambiente descontraído, Rui Bento afirmou ao "Farpas" que "foi o início de uma temporada que deverá marcar o futuro da Festa em Portugal”. “Estamos a viver um ciclo de revitalização, de regeneração e sobretudo a criar um ambiente em relação à Festa de Toiros através do Campo Pequeno, único, exemplar e necessário”, conclui o gestor taurino da primeira praça do país.

Entrevista de Fernanda Rita

- Na temporada em que o Campo Pequeno comemora os 125 anos da sua inauguração e os 11 da sua reinauguração, que balanço faz da primeira corrida da temporada?
- 125 anos, 11 de reinauguração e a 12ª temporada. Acho que o balanço é fantástico. Iniciámos a temporada com uma corrida de toiros com a praça esgotada. Curiosamente, nas doze temporadas, na primeira nocturna, uma corrida mista, com todo o ambiente que se viveu, penso que foi um resultado extremamente positivo e representativo do que tem sido a luta e o trabalho de toda uma equipa que tem dado o seu máximo. Com ambiente, na sua perspectiva mais universal do que significa o toureio em Portugal, com a figura do cavaleiro, a figura do forcado, que é essencial à nossa Festa e com duas das figuras do toureio de Espanha, praça esgotada, ambiente de máximo prestígio, de máxima categoria, com uma figura a ombros pela porta grande, é o máximo que se pode pedir numa temporada que foi anunciada como histórica e que deve passar à história. Iniciámos a temporada com uma corrida de máxima expectativa, máximo ambiente e o público feliz e divertido no final da mesma, isso é fantástico.
- Juan Jose Padilha é o toureiro dos portugueses...
- Neste momento é o revulsivo que a Festa de Toiros necessitava em Portugal. Não só num perspectiva enquanto matador de toiros, mas acho que a Festa necessita de coisas novas. Aquilo que fez o Padilla, a importância que teve na passada temporada, culminou nesta fase inicial da nova temporada com uma continuidade, sequência que nos demonstra que é um toureiro que pode vir a abanar o momento actual da Festa no nosso país, pela sua entrega, pela sua capacidade de superação, por tudo o que já fez, mas sobretudo aquilo que pode vir a marcar no futuro e para a continuidade da Festa. Uma Festa de Toiros viva, uma Festa de Toiros com emoção, com respeito. Penso que ele é a referência principal neste momento, é indiscutivelmente sinónimo de êxito, sucesso, isto foi apenas o início daquilo que possa ser uma temporada verdadeiramente histórica. Juan José Padilla marcou o que mais importante poderia acontecer numa corrida de inauguração do Abono como foi a corrida de dia 6 de Abril. Foi o início de uma temporada que deverá marcar o futuro da Festa em Portugal.
- Futuro esse que passa pelo toureio a pé… Rui, este sucesso numa corrida mista foi um abanão para o toureio a pé em Portugal?
- O Padilla é matador de toiros, já pagou umas quantas facturas daquilo que é a Festa de Toiros, um misto de tragédia e glória. O risco, a emoção, o jogo da vida e a morte. Um jogo em que um toureiro continuamente está no fio da navalha e o Padilla é a prova disso mesmo. Estando no fio da navalha com tudo o que já arriscou, com tudo o que já teve de superar, chegou ao Campo Pequeno a dar o seu máximo. Não deixou nada dentro dele que não chegasse ao público. Precisamente por isso o público vibrou, entregou-se e fez com que ele saísse em ombros uma vez mais, a terceira desde a arena e a quarta, digamos, desde a entrega de troféus que aconteceu em Dezembro. Penso que na história dos 125 anos do Campo Pequeno, não se pode redizer que um toureiro em nove meses tenha saído quatro vezes pela porta grande do Campo Pequeno e o Padilla fez isso exactamente, repetindo a proeza no passado dia 6 de Abril. Portanto, estamos a viver um ciclo de revitalização, de regeneração e sobretudo, estamos a criar um ambiente em relação à Festa de Toiros através do Campo Pequeno, único, exemplar e necessário. O Padilla era o toureiro de que a Festa estava a precisar… aquilo que terá sido o mexicano Gregório Garcia nos anos 40 está a acontecer precisamente em pleno século XXI.
- Ainda estão cartéis em aberto… que surpresas ainda podem acontecer esta temporada?
- Há uma coisa clara, as indicações iniciais são a continuidade daquilo que foi a temporada passada. Nós temos o cartel de 8 de Junho em aberto, numa perspectiva que toureassem três cavaleiros que não estivessem anunciados ainda na primeira fase da temporada. Depois de alguns contactos, de algumas conversações em que mantêm a mesma posição, provavelmente a corrida possa mudar de conceito, de moldes e possa passar de uma corrida de cavaleiros a uma corrida mista. Tudo está em aberto, vai depender dos próximos dia, vai depender de que haja um consenso de acordo, sobretudo e fundamentalmente pensando nos aficionados, nas pessoas que vêm à bilheteira e pagam. Directrizes que qualquer empresa deve ter a obrigação de preocupar-se com o que o público pede. E nesse sentido estamos muito empenhados em que a temporada de 2017 seja, de facto, uma temporada que, tendo sido anunciada como histórica, que passe para a história. A história passa precisamente com aquilo que acontece na arena e por aquilo que o público solicita e pede. E neste momento o público está claramente a indicar aquilo que quer.
- As perspectivas são boas...
- São óptimas! Temos uma diversidade de toureiros que nos permite conjugar diversos estilos, diversas personalidades, diversos conceitos que vão de acordo com aquilo que as pessoas que passam pela bilheteira solicitam. E a prova está numa corrida que há cinco ou seis anos era impensável, montá-la e ter o narrativo para despertar o interesse do público, como não só despertou, como esgotou o Campo Pequeno. Isso é um alerta para muitas pessoas que provavelmente tenham parado no tempo, pessoas aficionadas, profissionais desligados directamente ou indirectamente, para que façam uma reflexão, pois estamos em época de mudança para bem, para positivo. Noutros países a Festa está em declínio, eu penso que em Portugal está em crescendo. Num crescendo a favor daquilo que o público pede, é o que concluímos depois da primeira corrida.

Fotos Ricardo Relvas e Emílio de Jesus/Arquivo