terça-feira, 8 de agosto de 2017

Tarde de grande apoteose ontem em Angra do Heroísmo

A corrida acabou em ambiente de apoteose, com os três cavaleiros, o grupo
de forcados e a ganadera na arena com o público a aplaudir forte!
A Monumental de Angra do Heroísmo encheu ontem para a grande corrida dos
10 anos dos Forcados do Ramo Grande
Sem os craques da sua quadra, valeu o grande profissionalismo de Luis
Rouxinol
para deixar todo o público em verdadeiro alvoroço no quarto toiro 
Duas grandes actuações de Tiago Pamplona com toiros exigente e daqueles
que mandam os toureiros para casa. Mas ele não foi. Antes solidificou e
consagrou o seu estatuto de Figura terceirense
João Moura Jr. elevou o bom toureio mourista uma vez mais em Angra. A última
lide foi um assombro e fechou com chave de ouro uma grande corrida
Momentos da emotiva despedida de Filipe Pires, cabo fundador dos Amadores
do Ramo Grande, que ontem passou o testemunho a Manuel Pires


Miguel Alvarenga - Grande e apoteótica corrida de toiros ontem em Angra do Heroísmo, segunda e última das Festas da Praia da Vitória, uma tarde de muitas emoções marcada por uma memorável actuação dos Forcados Amadores do Ramo Grande, que comemoravam 10 anos de existência e procediam à mudança do cabo; por seis toiros de verdade da ganadaria dos Herdeiros do Dr. António Silva, sérios, nobres, bravos na generalidade, seis estampas de apresentação, exigentes, a pedir contas; e pelos êxitos dos três cavaleiros, Luis Rouxinol, Tiago Pamplona e João Moura Jr.
Grandes pegas por Luis Valadão (à segunda), Daniel Brasil (à primeira), Carlos Silva (à segunda), Alex Rocha (à primeira), o novo cabo Manuel Pires (mais um pegão à primeira) e César Pires (à primeira).
O cabo fundador do grupo, Filipe Pires, foi homenageado e galardoado pela Câmara da Praia da Vitória com a Medalha de Mérito Cultural e no final da pega do quinto toiro despediu-se das arenas, despindo a jaqueta e entregando-a ao seu sucessor, Manuel Pires. Momentos de lágrimas e de emoções e depois uma aplaudida volta à arena à frente de todo o grupo, com o público de pé a aplaudir.
No que aos cavaleiros diz respeito, Luis Rouxinol esteve regular no primeiro toiro da corrida e cresceu durante a lide do quarto. Sem os melhores cavalos da sua fantástica quadra nos Açores, serviu-se dos que trouxe para, com imenso profissionalismo e uma garra que todos conhecemos, dar a volta à situação, conquistando o público com dois curtos muito bons e depois dois "violinos" que aqueceram o ambiente e deixaram o público em pereito e total delírio. O saber, a experiência, a maestria e o profissionalismo do grande Luis Rouxinol deixaram o público em alvoroço..
Tiago Pamplona teve duas actuações de um mérito sem fim. Lidou dois toiros exigentes, muito exigentes mesmo, daqueles que mandam um toureiro para casa sem mais nem quê. Mesmo distanciado dos dois companheiros de cartel no que ao número de corridas toureadas diz respeito, Tiago deu de forma notável a volta às dificuldades que os seus dois toiros lhe puseram pela frente. Lidou o lote mais complicado e esteve por cima, com ferros e brega de muito boa nota, sobressaindo em sortes frontais de praça a praça, que resultaram de muita emoção e verdade.
João Moura Jr. destacou-se no início da lide do seu primeiro toiro, mas a actuação (e o próprio cavaleiro) esmoreceu e arrefeceu depois de ter falhado um ferro que, ao cair no chão, se cravou de baixo para cima na pata do toiro. Bons apontamentos, mas não uma lide redonda. No seu segundo toiro, sobretudo nos curtos e com o fantástico cavalo-craque "Estranho", com o ferro de Pablo Hermoso, Moura Jr. explodiu finalmente e com um toiro de Silva sério e nobre, pôde finalmente pôr em prática toda a arte, toda a glória e todo o temple do toureio mourista, do toureio que traz no sangue e que, doa a quem doer, marca sempre e em qualquer parte a diferença. Por outras palavras, ladeando a duas pistas, bregando, cravando com a emoção de sempre, fechou com chave de ouro esta que foi uma das melhores corridas dos últimos anos aqui na Ilha Terceira.
Um aplauso para o desempenho, frente a toiros que pediam contas, dos valorosos bandarilheiros David Antunes e Manuel dos Santos "Becas", Jorge Silva e José Luis Leonardo, Diogo Malafaia e Benito Moura.
A corrida foi muito bem dirigida pelo antigo bandarilheiro Rogério Silva, que esteve assessorado pelo médico veterinário Dr. José Paulo Lima.
A Monumental de Angra do Heroísmo foi palco de uma das melhores corridas que aqui se realizaram nos últimos anos. Toiros de verdade, com um comnportamento nobre e bravo, com imenso trapio e a impor a seriedade e a emoção que muitas vezes faltam à Festa. A jovem ganadera Sofia Silva Fava deu volta à arena no quinto toiro. Dois cavaleiros continentais consagrados, Rouxinol e o novo Moura, e um ginete terceirense que surpreendeu pela excelente forma que evidenciou, apesar de tourear pouco - e merecer mais. Não tenho problema algum em afirmar que Tiago Pamplona, como seu irmão João, superam e superam bem muitos dos ditos figurões continentais que se arrastam há anos e anos sem pena e sem glória. E estes valem. Um aplauso forte para os Pamplona!
E, acima de tudo e porque a tarde era deles, esta corrida ficou marcada pelo sucesso de um grande e sólido Grupo de Forcados. Muito superior, também, a muitos dos grupelhos que proliferam pelo continente. Com toiros de verdade e que pediram contas, que exigiram e que não eram para meninos, os Amadores do Ramo Grande reafirmaram ontem a sua grandeza, a sua maturidade, a sua solidez. E reafirmaram um novo grande cabo. Manuel Pires tem, no momento do cite, a tranquilidade dos eleitos. E a Monumental de Angra arrepia, pelo silêncio do público, no momento das pegas. Se cair na arena um alfinete, ouve-se. Manuel Pires voltou a estar enorme. E todo o grupo também. Dá gosto ver pegar assim, com tanta certeza, tanta decisão e uma tão grande afirmação. Fiquei fã dos Amadores do Ramo Grande!
A corrida acabou com os três cavaleiros, os forcados e a ganadera em praça e o público a aplaudir forte.

Fotos M. Alvarenga